terça-feira, 18 de maio de 2010

Um grande homem para grandes mulheres

texto publicado originalmente no site Grandes Mulheres

Ao ler o título deste texto você deve ter pensado: “Nossa! Que pessoa pretensiosa! Acabou de chegar e já se entitula um grande homem”. Em termos de caráter só me conhecendo para saber (talvez nem assim). Mas em tamanho, sem dúvida alguma eu sou um grande homem.

Meço 1,84 e peso mais de 125 quilos. Não sei o peso exatamente porque, como todo homem, não ligo para a balança. Confesso que às vezes fujo dela. Desde que me conheço por gente tenho problemas com aquela coisa quadrada que ficava no banheiro dos meus pais.

Descobri que era gordo aos cinco anos de idade. Acho que engordei devido às bolachas recheadas e o chocolate que eu tanto adorava. Lembro que a psicóloga da escola em que eu estudava chegou a perguntar o motivo do meu ganho de peso. Não sei a resposta até hoje.

Sempre fui sedentário, vivi até meus oito anos e meio na capital paulista. Brincava dentro de casa, sozinho na maioria das vezes. Não corria, não jogava bola, não empinava pipa. Assistia televisão, jogava vídeo-game, brincava com meus bonequinhos do Batman e meus carrinhos.

A primeira vez que vi a obesidade como algo negativo (antes eu era o gordinho lindo e bochechudo) foi na 1ª série. Na maldita Educação Física, tormento de todos os gordinhos. O Tio Wilson, o professor (que também poderia ser chamado de torturador), começou a pesar e medir os alunos. Eu era o 2º mais alto e o 2º mais pesado dentre os moleques de sete anos. O “educador” via na balança o peso do indivíduozinho e falava alto para alguém anotar, todos os outros indivíduozinhos também ouviam. Ainda me lembro do momento de subir na balança, ouvi a voz do Tio Wilson pronunciar meu peso e as vozes dos molequinhos ecoando um: “Nooooosa”.

Ainda em São Paulo eu sofria com bullyig.O menino, também gordinho, que era bom em futebol (agora é apresentador, ator e guitarrista), corria atrás de mim junto aos seus “capangas”. Eu me escondia atrás da trave do gol. Claro que ele me achava!

Quando me mudei pra Amparo-SP fui me acostumando com meu peso. Demorou um pouco para me adaptar na nova cidade, mas em menos de um ano eu já me sentia querido pelos coleguinhas da escola. Apesar de ser um tremendo perna-de-pau eu sempre era um dos primeiros a ser escolhido, porque eu era legal.

A obesidade me incomodou novamente na 7ª série. Enquanto os outros meninos já estavam saindo e beijando eu me escondia dentro de casa e inventava histórias de namoradas de outras cidades. Acho que cheguei a desenvolver uma “Fobia Social”. Saía de casa e achava que todos me apontavam na rua, que riam de mim. Paranoia.

A mudança ocorreu aos meus 15 anos. A minha primeira grande paixão. Daquelas de tirar a fome. E tirou. Resultado: Emagreci cerca de 30 quilos. Comecei a ir à academia (fui por três meses). Ia para baladas para fotografar as pessoas para aqueles sites de baladas. Fiz 16 anos, 17 anos. Consegui conquistar a menina que eu gostava (outra, não aquela que me tirou a fome). Levei um pé na bunda. Não passei no vestibular. Fui fazer cursinho e durante o ano de estudo eu voltei a engordar. Depois na faculdade fui engordando cada vez mais. Chega a ser engraçado pegar minhas fotos de 1º ano de faculdade e comparar com a do último.

Quando tinha 12 anos fui a um SPA com meus pais. Aos 22 passei 10 dias recluso em outro. Perdi 8 quilos e uma semana e meia. E entre desencanar de emagrecer e sentir o peso (no corpo e na consciência) aqui estou.

Escreverei para você, homem gordo, (sim, somos gordos e não fortes ou fofos) que sofreu e sofre as mesmas coisas que eu. Escreverei para você, homem magro, que adora fazer piadas e rir daquele seu amigo que está acima do peso. E escreverei para você, mulher, que precisa enxergar, que no peito de um homem gordo bate com mais dificuldade (bombear sangue para um corpo obeso não é fácil) um coração.



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